“What
if that means something? The universe is not “chaos”, it's
connection. Life reaches out for life. That's what we're born for,
isn't it? To stand on a new world and look beyond it, to the next
one. It's who we are.”
Monólogo do
filme
Não
penso que Mission
to Mars se
possa considerar um blockbuster,
no entanto tenho a certeza que foi feito de maneira a cumprir esse
alcance. Ou seja, sabendo que tinha o mundo como público. De Palma
tomou como modelo
2001
de Stanley Kubrick mas, no final, fica-lhe a dever muito pouco. E
digo “fica-lhe a dever muito pouco” porque em todo o caso é um
filme de Brian de Palma e o ter sido feito para um “grande público”
ou parecer um remake (subversivo) de A
Space Odissey1,
não apagam isso.
Os primeiros
planos contêm já neles os assuntos e temas de um filme.
Mission
to Mars começa
com o lançamento de um foguete de brincar para o céu. A câmara
desce e assistimos a uma festa que parece ser de despedida (há um
cartaz, em segundo plano, que diz BON
VOYAGE MARS ONE!).
Só nos são apresentadas todas as personagens no plano seguinte, mas
o primeiro já prenuncia o resto portanto centremo-nos nele: começa
tudo na infância. Ser astronauta é sonho de criança, imaginar
viagens pelos céus e pelo espaço, a aventura de tudo isso, porque
só depois é que se procura o dar significado às coisas; o amor.
Tema pilar de todo o filme que mais interessante é por não se
limitar ao amor “matrimonial”, não, é também pelo
conhecimento, pelos amigos e pelo desconhecido.
É
quando nos é apresentada a personagem de Jim McConell que percebemos
que Mission
to Mars é
também um filme sobre perda. Perda um bocado de tudo mas de fé,
principalmente. Fé essa que é restaurada pelo cosmos.
E
quando assistimos ao salto temporal da caixa de areia onde brincam os
miúdos para Marte, além de vermos que Mission
to Mars é
um filme sobre Jim, que este é o herói desta história, todas as
outras questões se conjugam. Ao pôr o pé na areia, Jim recorda que
já sonhou ali, em miúdo, com o espaço, que já teve uma mulher e
que quer significado para as dúvidas. Que lhe falta qualquer coisa,
que talvez Marte seja a resposta. É além disso a elipse que já
2001
tinha.
Não tão longe no tempo mas mais longe um bocado no espaço2.
No filme de Kubrick pode-se dizer tratar-se de uma questão
histórica, no de De Palma uma questão de estória. Quem quis (e
quem ainda quer) mal a este filme, disse que era uma versão light
de
2001
e
Solaris,
eu digo que o filme dá forma ao que nos outros dois era envolto em
enigmas. Fez-se o exercício narrativo de forjar uma explicação
para a vida, mas se ela parece infantil ou ridícula isso só abona
em favor do filme, além do deslumbramento da descoberta estar lá e
me parecer tão belo como o dos filmes de Kubrick e Tarkovski.
Não
é costume de quem estuda e critica filmes querer aprofundar no que
parece auto-explicar-se. Mas Mission
to Mars não
se auto-explica. O final do filme parece-me rodeado de mistérios.
Porque Jim não sabe para onde vai, é a fé que o move, foi o ter
ouvido a mulher a dizer que tínhamos todos nascido para ir para um
mundo novo e olhar além dele, para o próximo. Ninguém sabe para
onde foi ele e o derradeiro segredo foi-lhe reservado. Ou outra
coisa. Ter Mission
to Mars sido
muito enxovalhado por altura da estreia diz mais sobre nós do que
sobre o filme, propriamente. “Acreditar” não é muito coisa dos
tempos que correm, que ser deslumbrado com uma pepsi
numa
mão e pipocas na outra não cai lá muito bem. Talvez. Mas quem viu
a alegria nas caras de Jim (Gary Sinise), Luke (Don Cheadle) e Terri
(Connie Nielsen) no momento daquela revelação não pode deixar de o
fazer.
Have a
great ride, Jim!
1.
De
Palma fala também de Destination
Moon
de Irving Pichel como inspiração para este filme.